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Reciclagem, coprocessamento e economia circular: um caminho sem volta

É urgente aplicar os princípios da economia circular de ponta a ponta em toda a cadeia produtiva

Na indústria como um todo, atingimos um patamar no qual é inviável não pensarmos mais em alternativas como reciclagem e coprocessamento quando o assunto são os resíduos. Não podemos mais produzir da mesma forma que fazíamos décadas atrás.

Quais são os desafios da economia circular na indústria?

Falando especificamente do setor em que atuo, a indústria de alimentos, é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que é essencial para a sociedade, gera muitos resíduos, especialmente quanto aos efluentes industriais – biológicos e químicos – além dos resíduos sólidos.

Segundo o estudo “Cidades e Economia Circular dos Alimentos”, da Fundação Ellen MacArthur, precisamos superar o chamado sistema moderno linear de produção de alimentos, conhecido pela extração de recursos finitos, desperdício e poluição, prejudicial ao meio ambiente.

O levantamento aponta que, de modo geral, para cada dólar gasto em alimentos, pagamos dois dólares em custos ambientais, econômicos e de saúde. Metade desse montante – cerca de US$ 5,7 trilhões anuais – está relacionado à maneira como os alimentos são produzidos.

A pesquisa também traz o dado de que o setor agroalimentar responde, globalmente, por quase um quarto das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e que o equivalente a seis caminhões de lixo de alimentos próprios para o consumo são perdidos ou desperdiçados a cada segundo. Ainda, nas cidades, menos de 2% dos nutrientes biológicos de coprodutos e resíduos orgânicos, excluído o esterco, são compostados, valorizados ou reaproveitados de outra forma.

Diante desse cenário, é urgente fazermos da produção de alimentos um processo pautado pela economia circular, sendo necessário pensarmos em ações de ponta a ponta da cadeia. Para os resíduos orgânicos, as possibilidades de destinação vão além da compostagem e incluem o reaproveitamento em biodigestores, capazes de transformar lixo em energia, que pode ser utilizada na própria indústria ou na comunidade.

Resíduos como plásticos, papéis, vidros e metais, por sua vez, são enviados para a reciclagem, em parcerias com cooperativas, fomentando a economia sustentável. Já o coprocessamento é o destino do que não tem como ser encaminhado para biodigestores ou reciclagem, tornando-se combustível para cimenteiras.

Contudo, não devemos pensar apenas em soluções para o pós-produção. Evitar o uso excessivo de açúcares, gorduras e aditivos – como os conservantes, corantes, emulsificantes, etc. – também reflete positivamente na sustentabilidade, já que é comprovado que os alimentos ultraprocessados causam impactos negativos não apenas na saúde de quem os consome, mas também no meio ambiente.

Adquirir insumos da agricultura familiar e de produtores orgânicos é outro caminho para a indústria de alimentos. Afinal, como pontua Simon Sinek em Comece pelo porquê: como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir, “o objetivo não é fazer negócios com alguém que apenas quer o que você tem, mas com pessoas que acreditam no que você acredita.”

É também de Sinek que empresto a reflexão final deste texto. Para um negócio ser efetivamente sustentável, é crucial que isso seja incorporado aos princípios da organização. Colaboradores precisam ser envolvidos e essas questões devem estar claras no recrutamento.

De nada adianta ter processos focados em sustentabilidade se as pessoas ao redor são excluídas. Os resultados são naturalmente melhores quando nos vemos em uma companhia em que a cultura dá match com a nossa, em lugares onde vemos nossos próprios valores impressos.

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