Feijão fradinho, o grão que só rende misturinhas boas
Salada de feijão fradinho[/caption]
Salada de feijão fradinho[/caption]
Da refrescante salada de feijão fradinho, passando pelo acalentador caldinho até os simbólicos acarajé e o abará feitos com o ingrediente em questão concederam a ele fama nacional, já adquirida de longas datas, a de que só rende misturinhas boas. De sabor acentuado e único, não necessita muitos temperos. Cozido apenas com água e sal, brilha em todas as composições com ele preparadas.
Composições estas eternizadas não só na mesa dos nordestinos (atualmente, por todas as regiões do país), mas também em toadas executadas pelo Rei do Baião, o brasileiríssimo Luiz Gonzaga do Nascimento. Tão grandioso era o talento desse artista como era, reza a lenda, o seu apetite. Sendo assim, não havia como dissociar. Luiz Gonzaga usou e abusou dos ingredientes tradicionais da culinária nordestina para compor versos e prosas. Entre os sabores enaltecidos em suas cantorias, o ‘fradinho’ é o destaque, já que misturado ao arroz branco produz um prato muito popular chamado baião-de-dois.
Fradinho no baião-de-dois, de três…..de doze
A empresária e cozinheira Maria Gomez de Moura Lima, que há 24 anos elabora pratos tradicionais nordestinos, sempre ao lado de seu marido, o pernambucano de Orobó, Evangelista Severino de Lima, o Nô, conta que o feijão macáçar (assim conhecido por todo o nordeste) é presença marcante no cardápio dos restaurantes do casal, bem como no do dia-a-dia dos nordestinos.
Baião-de-dois de gala
“O feijão macáçar é comida que já tem sabor. Tanto que para o preparo do nosso Arrumadinho de Carne de Sol de Charque, que leva queijo-de-coalho, charque desfiado, bacon e arroz branco, eu cozinho o feijão macáçar com água e sal. Basta”, enfatiza ela. O fato é comprovado no cardápio da casa, no qual, além dos pratos regionais, o feijão macáçar com água e sal mais a macaxeira são duas das guarnições das 12 das refeições principais do Bode do Nô, entre elas o Bode Assado, a Carne de Sol, a Picanha de Bode.
‘O hábito faz o monge’
Ainda que em muitas regiões a predominância de ingredientes no cardápio cotidiano seja explicada pelo cultivo de determinado tipo de feijão ou natureza cultural, atualmente a natureza ambiental é fator preponderante. “No lugar do maçáçar usávamos a fava, mas como não existe mais inverno por estas bandas, o cultivo do maçácar ficou mais viável. Então, passou a ser ingrediente para tudo e para todos”, explica.
Comida de sustança para cair na festança
De norte a sul, leste a oeste do Brasil há inúmeros exemplos tradicionais em que a gastronomia serve de inspiração para a folia momesca. Mas, não há como negar, comida de sustança ajuda os foliões a aguentarem tamanha festança. Afinal, os carnavalescos de plantão, ao mínimo, festejam cinco noites consecutivas. E nada como comida repleta de energia para assegurar o fôlego.
E voltando ao nordeste, região que ecoou por todo o país receitas de tirar o fôlego – de acepipes a pratos principais -, também prolifera dicas para aguentar firme as noites de folia. No Recife, no bairro de Boa Viagem, há o bloco ‘gastrô para chamar de seu’. O grupo, que frequentava o Caldinho do Vovô, um quiosque de comida nordestina que funciona apenas nos fins de semana, decidiu usar o caldinho (petisco que rima com cerveja gelada no litoral pernambucano) como mote para o mundanismo. O resultado? O bloco ‘Bulindo no Caldinho’. E a receita para continuar firme na festança é o caldinho de feijão fradinho.
RECEITA
Salada de feijão fradinho
Ingredientes:
– 250 gr. de feijão fradinho;
– Azeite o suficiente para cobrir o fundo da panela. No caso, usei a pressão, apesar de ser mais adequado uma boa panela de ferro tampada, já que o ponto (ao dente) é mais facilmente aferido;
– água o suficiente para o cozimento do grão;
– sal
– 1 cebola roxa ou branca grande, picada (ambas são de sabores menos ácidos, que mesmo utilizadas sem serem escaldados não proporcionam o ardor forte das amarelas;
– 200 gramas de mini tomates cortados em quatro;
– um maço de menta fresca, enrolada e picada rapidamente para que não escureçam;
– cerca de duas colheres de sopa de tomilho-limão. Se os talos estiverem frescos e moles, pique e junte-os à salada;
– raspas de 1 limão siciliano. Alternativa a esse é o limão rosa. Nesse caso, use as raspas de 1/2 limão;
– suco do limão, sem as sementes. A observação anterior também prevalece aqui;
– 1 bulbo de salsão picado;
– 1 pimenta dedo-de-moça, sem sementes, moída;
– Azeite de oliva
Modo de Preparo:
Feijão cozido ao dente. Os demais ingredientes devem estar todos bem picados e o grão temperado com as ervas, limão, azeite
Dica da hora:
Como o feijão não pode perder o ponto para que a salada não se torne uma pasta, para não errar e ganhar energia com mais agilidade use o feijão fradinho cozido da Vapza. O grão (vendido em porções de 280 gr.) é cozido a vapor, com a textura ideal para o preparo de uma refrescante salada; de um caldinho de feijão ou mesmo de um baião-de-dois. Basta adicionar os ingredientes indicados acima.
Benefícios
Não é de hoje que admiro o sabor diverso do ‘fradinho’. Já nos idos tempos de faculdade, quando iniciei uma longa e admirável jornada pessoal e profissional em São Paulo, por anos consecutivos morei no centro da capital, mais precisamente na Rua Vitória. Por ali, as delícias nordestinas eram preparadas com esmero e a preços acessíveis. Assim, fui sendo apresentada aos quitutes do nordeste e a este povo, que tão bem, sempre, me acolheu. Afinal, éramos todos retirantes, e, eu, apenas mais uma em meio a tantos brasileiros que formaram um Brasil dentro de uma só capital. Assim, fui inserindo novos sabores e saberes de nosso povo aos meus preparos e descobri que o ‘fradinho’ caía bem. Muito bem.
No que tange à digestão, considero um dos mais leves. Para minha surpresa, há algumas semanas deparei com uma reportagem que abordava os benefícios deste feijão, o fradinho. Cientificamente comprovado ele baixa o colesterol. Como outros tipos de feijão, o também conhecido como caupi é rico em fibras, ferro e vitaminas.